Cumprimento das Expectativas
Todos nós que já detemos alguma experiência na área do ensino, sabemos que as expectativas que, enquanto professores, depositamos no trabalho dos nossos alunos e a perceção que os nossos alunos têm dessas expectativas, afetam a qualidade do trabalho que produzem, a sua dedicação e motivação, a sua autoimagem e o seu autoconceito. De forma abreviada, podemos remeter aqui para o processo que a psicologia designa por efeito de Pigmalião, ou seja, cumprimento das profecias, expectativas.
Deste modo, ao trabalharmos com alunos com dificuldades, é fundamental traçarmos o seu perfil, o mais rigoroso possível, para assim podermos implementar uma interação profícua, que permita contribuir de forma efetiva para o correto desenvolvimento dos nossos alunos, quer do ponto de vista cognitivo, quer físico, quer social. Será este perfil que nos permitirá definir estratégias de intervenção e tarefas adequadas aos alunos. Será este perfil que ditará o sucesso ou o insucesso do nosso trabalho com os nossos alunos. Mais importante do que isto, constituirá um fator de risco ou de desenvolvimento para o futuro dos nossos alunos, enquanto seres singulares e sociais.
Um Desafio Adequado
Sabemos que propormos tarefas demasiado exigentes a qualquer aluno pode, pelo grau de dificuldade, gerar o sentimento de frustração e a autoimagem de que “eu não consigo, eu não sou capaz”.
Muitas vezes, este sentimento contribui, de forma significativa, para que o aluno deixe de apostar nas suas próprias capacidades, desinvista na sua formação enquanto cidadão e ser social ativo.
Por outro lado, o propormos sempre tarefas com um nível de exigência aquém das reais capacidades dos alunos, pode também contribuir para que estes se desinteressem pelas tarefas propostas, percebendo que são muito menos interessantes e desafiadoras do que as que o professor está a propor aos restantes colegas da turma.
Neste caso, a perceção desta diferença, não só é arrasadora para a autoimagem e o autoconceito que o aluno tem de si próprio, como contribui para o alimentar de representações sociais que nada abonam acerca do aluno com dificuldades.
Papel do Professor de Educação Especial
Assim, podemos concluir que este é o grande desafio do professor de Educação Especial: propor aos alunos com dificuldades tarefas que constituam desafios, que gerem desequilíbrios nas suas aprendizagens, mas que se adaptem, realmente, às suas capacidades, traçando expectativas que possam, de facto, ser alcançadas pelo aluno e pelo professor que com ele trabalha.
Muito importante, também, na correta identificação das reais capacidades e necessidades dos alunos com dificuldades, está a sua correta inclusão, quer no contexto da turma, quer no contexto da escola.
É o trabalho que o professor de Educação Especial implementa com o aluno, que define as expectativas que o professor, o aluno e o meio podem esperar desta empreitada. Assim, o segredo pode estar na implementação de atividades que explorem ao máximo as potencialidades destes alunos, fazendo-os ver que são cidadãos capazes e ativos e fazendo com que quem interage com eles, nos diferentes contextos (escola e família), perceba também as suas reais capacidades.
Afinal, o aluno com dificuldades é um aluno com necessidades diferentes dos outros, mas também com potencialidades diferentes. Desta forma, está o professor de Educação Especial a afirmar-se como promotor da inclusão social destes alunos, promovendo também a sua autonomia e a sua afirmação enquanto cidadãos.