O Abecedário da Educação foi à procura de uma escola com olhos postos no futuro. Que desenvolve competências essenciais nos seus alunos para integrarem uma sociedade cada vez mais competitiva, exigente e informatizada. E não é que encontramos! No Agrupamento de Escolas de Póvoa de Lanhoso (AEPL), as práticas de ensino e aprendizagem são inovadoras e permitem que este agrupamento seja uma referência para outros.
Assim, estivemos à conversa com o professor Ângelo Dias, docente de Informática no Agrupamento de Escolas de Póvoa de Lanhoso, onde existe e é explorada, por professores e alunos, uma Future Classroom Lab.
Fomos agora perceber quais as reais potencialidades deste projeto, entrevistando alguém que pode explicar-nos como chegou esta sala a uma escola da Póvoa de Lanhoso e como pôr em prática as várias tecnologias que a mesma possui.
* Como teve conhecimento da Future Classroom Lab?
A primeira vez que ouvi falar em “salas do futuro” foi por intermédio do Município da Póvoa de Lanhoso, na pessoa da Sr.ª Vice-presidente e Vereadora da Educação, Dr.ª Gabriela Fonseca. Existia a possibilidade, através do Plano Integrado e Inovador de Combate ao Insucesso Escolar do Ave, que tem como principal objetivo a promoção do sucesso escolar e o combate ao abandono escolar na região do Ave, de incluir um projeto desta natureza e equipar a nossa sala de aulas do futuro com os equipamentos necessários para criar um “ambiente educativo inovador”.
* Como conseguiram implementá-la na vossa escola?
Como existia a possibilidade de implementação, o AEPL manifestou a necessidade de conhecer outras estratégias de diferenciação pedagógica em contexto de sala de aula, mais apelativas e motivadoras. Desta forma, fomos convidados pela autarquia a visitar uma sala já implementada na zona centro.
O coordenador de estabelecimento da EBI do Ave, nessa altura, Mário Moura, aficionado pela incorporação das tecnologias no processo de ensino e aprendizagem, acompanhou a visita. No dia seguinte, chegou todo entusiasmado e com tantas ideias que eu só pensei, vai sobrar para mim.
As ideias foram transmitidas ao nosso diretor, José Ramos, que é o primeiro a incentivar à inovação (e já assisti a muitas desde que cheguei à escola em 2009). A partir desse momento começamos a pensar num espaço para o efeito e a idealizar o projeto. A excelente colaboração entre o Município e o AEPL, nas mais diversas valências, foi deveras importante para a sua concretização. No início deste ano letivo, recebemos todos os equipamentos. O próximo passo é trabalhar no sentido de adquirir mobiliário. Desta forma, pretendemos uma maior mobilidade no espaço, bem como embelezá-lo.
*Que tipo de recursos apresentam estas salas?
Os “Ambientes Inovadores de Aprendizagem” são espaços que permitem “criar”, “interagir”, “apresentar”, “investigar”, “colaborar” e “desenvolver”, constituídos por determinados equipamentos associados a cada uma destas valências, nomeadamente, e no caso da nossa sala:
Criar: Câmara de fotografia e vídeo; kit de iluminação para fotografia; software de edição de vídeo; uma impressora 3D e gravador de áudio digital.
Interagir: Quadro interativo; Display interativo; Sistemas de perguntas e respostas; tablets e uma mesa digital.
Apresentar: Projetores e display.
Investigar: Robôs; Sensores; ActiView; Arduínos e Microbits.
Colaborar: Quadros interativos, mesa interativa com projetor e parede/quadro branco com 6m2.
Desenvolver: Móveis informais; cantos de estudo; tablets, computadores e headphones.
*Que feedback recebe por parte dos alunos que já experimentaram?
Recentemente tivemos uma visita do Executivo do Município à nossa sala. E, como não conseguíamos ter todos os alunos dentro da mesma, efetuamos um vídeo para que pudessem aparecer e manifestar a sua opinião. Os pequenos, de uma forma muito especial, expressaram a opinião: “espetacular”; “trabalhar de maneira diferente”; “5 estrelas”; “é fixe estar aqui”; “é divertida”; “é mágica”; “todos trabalham todos aprendem”; “a matemática é mais fácil de resolver”; “este material dá para trabalhar com interação e cálculo mental”; “dá para trabalhar em conjunto”; “gostamos de aprender com os materiais da sala do futuro”;… Mas, para mim, mais evidente é a motivação, o encanto e o empenho que vejo na realização das tarefas.
*São adequadas a todos os anos de escolaridade?
Posso afirmar que sim. Isto porque, até ao momento esta sala já foi utilizada por todos os níveis de ensino da EBI do Ave. O pré-escolar e 1.º ciclo têm imensos recursos que podem ser utilizados nesta sala com a utilização dos equipamentos disponíveis. Além dos facultados pelas editoras, têm ainda aplicações como: o hypatiamat e a plataforma + cidadania – CIM do Ave. Nos 2.º e 3.º ciclos é prática corrente a projeção das apresentações com possibilidade de interação e aplicação de fichas/testes com recurso a sistemas de perguntas e respostas.
*Podem ser usadas quer pelos alunos do ensino regular quer pelos do ensino profissional?
Não tenho dúvidas acerca disso. É evidente que alguns recursos são mais apropriados a determinados ciclos de ensino do que a outros. Mas, a título de exemplo, nós promovemos as TIC nas Atividades Extracurriculares (AEC) do 1.º ciclo. Os alunos programam o equipamento Arduino com recurso à programação em blocos e temos alunos do profissional a programar o mesmo equipamento nas provas de aptidão profissional. Este ano, os alunos do curso profissional de técnico de audiovisuais, com recurso aos equipamentos da sala do futuro, gravaram os vídeos de cada turma para o projeto “Heróis da Fruta”. É extremamente gratificante ver o trabalho colaborativo desenvolvido entre alunos do 3.º ano do ensino profissional e do 1.º ciclo. Já os técnicos de multimédia podem utilizar a impressora 3D, por exemplo, para imprimir os projetos que editam em 3D.
*Qual é a opinião dos professores que já recorreram a esta sala?
No sentido de colocar em prática o plano de formação do AEPL, foi criada uma atividade com o nome “Partilhas à sexta no AEPL”, que tem como objetivo dinamizar um conjunto de Ações de Curta Duração (ACD) para disseminar as aprendizagens adquiridas no âmbito da formação europeia – Erasmus + KA1.
Alguns destes momentos de partilha têm sido realizados na “Sala do Futuro” da EBI Ave. De facto, os colegas têm demonstrado enorme satisfação na utilização dos recursos incluídos na sala.
Embora não seja obrigatório, porque cada turma tem a sua sala de aula, efetivamente, os recursos estão a ser utilizados e, no pré-escolar e 1.º ciclo, o horário contempla entre 1h a 1:30h com o professor titular; a área curricular de Inglês também têm horas marcadas no horário; o professor da AEC – TIC utiliza alguns equipamentos na sala dos Magalhães (sala afeta ao 1.º ciclo com 21 computadores Magalhães). Existem vários professores dos 2.º e 3.º ciclos que requisitam a sala. O objetivo é promover algumas sessões ou realizar fichas de trabalho/avaliação com recurso aos sistemas de resposta.
Em síntese, as opiniões, que me são transmitidas e pelo uso facultativo do espaço, são muito positivas. E, inclusive, temos professores a falar na possibilidade de aquisição de alguns destes equipamentos para a escola sede (Escola Secundária da Póvoa de Lanhoso).
*Estão os professores aptos a utilizar estas salas, explorando as suas potencialidades máximas?
Existe uma grande preocupação desde que se começou a idealizar o projeto em capacitar os professores na utilização destes recursos. Por essa razão, no âmbito da formação europeia – Erasmus + KA1, fui efetuar uma formação na European Schoolnet, precisamente numa Future Classroom Lab. Nesta formação participaram ainda dois técnicos administrativos da EB do Ave, Vítor Macedo e Jorge Sousa. A sua participação foi no sentido de esclarecer qualquer dúvida que vá surgindo na utilização da mesma e para que não exista receio na sua utilização.
Temos disseminado as aprendizagens adquiridas individualmente, sempre que nos é solicitado. E, em grupo, nomeadamente, no dia 26 de abril de 2019, realizamos uma ACD onde estiveram presentes 29 professores. O feedback final foi muito positivo.
Nos dias 8 e 9 de julho de 2019, vai-se realizar, na Póvoa de Lanhoso, o Encontro “TIES – Training and Innovating to Ensure Success – A Escola de Hoje a preparar para os desafios de Amanhã”. E nós vamos voltar a dinamizar um workshop sobre Ambientes Inovadores de Aprendizagem. Também o projeto desenvolvido pelo Município teve a preocupação de contemplar horas de formação que têm sido desenvolvidas nas diversas valências deste espaço.
*Que mais-valias representam para os processos de ensino e aprendizagem?
Os ambientes inovadores de aprendizagem podem ser rentabilizados para a promoção do sucesso educativo. Isto pode verificar-se em todos os ciclos de ensino e em todas as disciplinas. Evidentemente, não digo que todas as aulas devem ter recurso às tecnologias para ser uma boa aula. No entanto, atualmente, é quase impensável uma sala de aula sem computador, sem acesso à internet e sem projeção. Se me perguntam se são utilizados em todas as aulas? Eu respondo que não, mas quando é preciso estão lá e os professores podem recorrer a estas tecnologias.
O mesmo se passa com os recursos da “Sala do Futuro”. Se existirem, os professores/formadores podem pensar em dinamizar esses recursos e um conjunto de plataformas que se enquadram devidamente neste tipo de ambientes de aprendizagem (Edmodo, Classflow, Moodle, Scientix, Kahoot, + Cidadania, Hypatiamat, Socrative,….). Estamos no século XXI, rodeados de tecnologia. Congruentemente, o perfil do aluno à saída da escolaridade obrigatória tem necessariamente que englobar esta dimensão técnica e tecnológica.
Um excelente exemplo de inovação no ensino. Parabéns à escola e ao blogue pela divulgação.
É realmente destas escolas, que apostam na novidade, que precisamos para motivar os nossos alunos. O blog tem feito um bom trabalho na divulgação de assuntos muito pertinentes, num campo tão relevante para a evolução da sociedade, como é a educação.
Que magnífica referência ao que se faz de bom nas escolas. As tecnologias motivam realmente os alunos. Parabéns