Conheça Nadine Santos – uma cientista (Parte II)

Como prometido, continuamos a apresentar-lhe Nadine Santos.

*Que motivações a levaram a seguir esta área de investigação?

A sociedade. A sociedade em si. Nos últimos 50 anos tem havido uma mudança social tremenda – vivemos mais. Vivemos mais porque os cuidados de saúde e as práticas de saúde pública melhoraram e evoluíram de uma forma extraordinária. Com tal há desafios.

O que explica que dois indivíduos, da mesma idade, em 10, 20, 30 anos, nos seus anos mais seniores, possam diferir no seu desempenho cognitivo? A resposta a esta pergunta é fundamental e necessária de ser percebida. O nosso desempenho cognitivo permite-nos realizar desde as nossas atividades de vida diária (como ir às compras, ao banco, nos orientarmos nos horários e rotas dos autocarros) até atividades cognitivas mais complexas – quaisquer que sejam, estão intrinsecamente ligadas à nossa qualidade de vida.

Não chega viver mais anos, é preciso vivê-los bem. Desta forma, os estudos que temos realizado – os chamados estudos populacionais (observacionais, uns transversais e outros longitudinais)- permitem-nos “olhar para trás”. Onde é que esses dois indivíduos diferiram? Algo intrínseco, como o é o nosso património genético, ou algo mais extrínseco? Tiveram oportunidades educacionais diferentes? Tiveram experiências de vida diferentes? Quais pesaram mais no explicar do trajeto cognitivo? São estas as questões que me motivam no meu dia a dia, diria que é uma busca, sei que certamente com vertentes utópicas, de contribuir para nossa qualidade de vida enquanto sociedade.

*Em que consiste o seu dia a dia?

Hoje em dia consiste, sobretudo, num equilíbrio entre a parte que chamaria de “trabalho de campo”. Ou seja, o estabelecimento de contactos com lares, centros de dia, centros sociais, e qualquer outra entidade associada à população sénior, e caracterização/avaliação através de todo um conjunto de métodos de estudo desta população. E o “trabalho de computador”. Isto é, a parte da pesquisa bibliográfica, o analisar os dados e escrever os respetivos artigos científicos que permitem partilhar os achados com a comunidade científica e sociedade.

Há também um componente de orientação de estudantes e, na parte do ensino, a vertente de docência. Aliam-se estas atividades ao sempre presente escrever e submeter projetos para financiamento. Fazer ciência é caro, mas ainda é mais caro não haver ciência. Portanto, é tal que nos impulsiona e faz continuar neste dia a dia.

*O trabalho das mulheres na Ciência tem sido mais facilitado ao longo dos anos?

A história está repleta de incompatibilidades de se ser “mulher” e ser “cientista”. Os obstáculos e dificuldades impostas, advindas tanto de fatores históricos como socioculturais, ainda são prementes em muitas culturas.

O próprio entrave no acesso à educação ainda caracteriza algumas sociedades, e outros aspetos, mais subtis, mas reais, como o são as divisões desiguais em atividades de cariz mais doméstico, atuam como fatores limitantes para o pleno desenvolvimento das mulheres cientistas. No entanto, certamente temos evoluído.

Portugal é um exemplo fortíssimo de tal – temos toda uma estrutura social da qual nos devíamos orgulhar. Revela não só o trajeto educativo/académico que é possível fazer no nosso país, que permite e acolhe o se ser mulher e se (vir a) ser cientista, sem a preconceção de um encaminhar de meninos para matemáticas e ciências e meninas para humanidades, como que na própria família há uma potencialização e nutrir desse caminho que o torna possível.

Somos uma sociedade que reconhece e incentiva a diversidade de quem a forma, apostando na diversidade dos seus investigadores. Ressalve-se: a qualidade e a diversidade na investigação está de mãos dadas com a diversidade dos seus cientistas e formas de pensar e estar. Ciência de excelência, ciência disruptiva, alimenta-se de diversidade.

Não perca a última parte desta entrevista, pois fica a promessa de que gostará!

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *