Conheça Nadine Santos – uma cientista (Parte III)

Cá fica a parte final desta tão rica e cativante entrevista.

*Que características deve ter um investigador para ser bem sucedido?

Dedicação. Extraordinária dedicação.

Mas, além disso, pessoalmente sempre achei que um bom cientista é aquele que é resiliente ao “não” e ao saber que poderá nunca vir a ver qualquer resultado direto do seu trabalho.

Pensemos em algo tão simples (na verdade, complexo) como uma cura para o cancro. Quantas gerações de cientistas empenhados, dedicados, extraordinários? Diz-se que a “ciência faz-se de 99% suor e 1% inspiração”.

O nosso dia a dia é repleto de resultados negativos, mas esses resultados dizem-nos imenso. Os mesmos permitem-nos partir para a próxima pergunta, experiência, resultado, técnica, metodologia. E é isto que caracteriza o cientista. No final do dia não teremos um aluno que no início da manhã não conhecia ainda o “i” e no fim do dia já o sabe identificar, ou o cano que vertia água e agora já não verte; ao invés, a ciência é quase que incrivelmente lenta até ao momento de “eureka!”, sem imediato resultado aparente. Mas é metódica e constrói-se notavelmente em cima de si própria num universo em que todos os contributos passados permitem chegar ao hoje.

Somos, assim, um produto de tudo aquilo que nos precedeu mesmo que pareça (ou seja) um passo minúsculo. E é o método que nos permite os avanços. Que nos permite a tal qualidade de vida e de saúde. Bem como a compreensão de tudo aquilo que nos rodeia nas suas várias dimensões – da engenharia, à matemática, biologia, física e química.

*Que diferenças nota entre o trabalho em Ciência no estrangeiro e no nosso país?

A maior diferença é o apoio.

Reparemos nos últimos números do Emprego Científico da FCT – apenas 8% tiveram posição. Imaginem que apenas 8% dos eletricistas qualificados em Portugal tivessem posição, ou 8% dos professores, dos advogados, dos camionistas. É vergonhoso.

Vivemos numa incerteza medonha, em que a maioria de nós tem vínculos de trabalho precários. Portanto, temos uma sucessão de bolsas e contratos a prazo. A integração na carreira é basicamente inexistente. Enquanto bolseiros nem empréstimos bancários conseguimos para, por exemplo, compra imobiliária.

É imperativo que o país tome consciência e acorde para esta realidade de se ser cientista.

É imperativa a substituição da precariedade generalizada e estrutural do sistema científico e tecnológico nacional por um reforço urgente de meios públicos estáveis. É fundamental a integração massiva dos cientistas/investigadores na sua carreira.

Esta dualidade da qualidade e investimento na educação, no nosso treino, e depois o abandono quase total, é para mim algo avassalador, rasgante, e onde encontro a maior diferença entre trabalhar em ciência cá dentro e lá fora.

*Deixe-nos um último comentário relativamente à difícil situação de saúde pública que estamos a viver.

Vivemos um momento de causa social, uma causa social de todos nós, para todos nós. Fiquemos em casa! Protejamo-nos a nós e aos outros. Dos mais frágeis e em risco, àqueles que não podem ficar em casa porque lutam por todos nós em linhas primárias – desde quem recolhe o nosso lixo, a quem está em campos agrícolas e na caixa do supermercado, a quem nos trata e cuida em ambiente hospitalar. É a causa social da nossa vida.

O ficar em casa, no tal “trabalho de computador” e contribuir, no que me for possível, para um algo de relevante para a nossa sociedade neste momento de pandemia COVID-19, é o meu contributo individual para uma sociedade melhor (convido-vos a visitarem, por exemplo, a contribuição para o Projeto GIRO em https://www.p5.pt/projetogiro/).

Fiquem bem! Fiquem seguros! Fiquem por casa! Cuidemos uns dos outros, e se me permitem, fica uma nota de louvor a todos os cientistas que em laboratórios e gabinetes ao redor do mundo, nesta luta de todos nós, produzem, a um passo incrível, conhecimento, inovação e tecnologia para o benefício de todos nós.

O Blogue Abecedário da Educação fica muito grato à Nadine Santos pela entrevista que nos concedeu e desejamos-lhes os maiores sucessos pessoais e profissionais.

Agradecemos também, em nome de todos os portugueses, por ter decidido desenvolver o seu trabalho em Portugal, ao invés do EUA, que lhe oferecia melhores condições.

Atendendo às circunstâncias que vivemos atualmente, os cientistas desempenham um papel de grande relevância na procura de uma vacina e/ou medicamento que nos possa proteger deste novo coronavírus, o SARS-CoV-2. Portanto, quando tudo voltar à normalidade ansiamos que o trabalho em Ciência seja mais valorizado e reconhecido no nosso país!

Por cá, se já admirávamos a Nadine Santos, agora somos os fãs number one!

2 comentário em “Conheça Nadine Santos – uma cientista (Parte III)

  1. Andreia Peixe Silva comentou:

    Parabéns Nadine, adorei a entrevista e fico muito contente pelo teu sucesso profissional.
    És uma Grande Mulher!!
    Beijinhos: Andreia Peixe! (Turma do 1°e 2° ciclo)

  2. Glória Sousa comentou:

    Maravilhosa entrevista. Ficamos presos à leitura, estava ansiosa para ver as partes seguintes da entrevista. Parabéns ao blog e à cientista!

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