Recordo-me de uma história que a minha mãe me contava quando eu era pequena. Contara-lha a minha avó no dia em que conheceu a Liliana, uma menina muito bonita, mas diferente das outras.
O trevo de quatro folhas
Era uma vez uma menina, que costumava brincar num jardim repleto de trevos. Um dia, quando procurava um sapato que lhe caíra de uma boneca, ajoelhada, encontrou um trevo que era diferente de todos os trevos. Estava curvado sobre si próprio e iria murchar em breve se alguém não lhe dispensasse um bocadinho de atenção. Vivia sozinho num canto sombrio do jardim.
Na verdade, nenhum outro trevo lhe dava uma palavra que fosse, porque ao contrário de todos os outros trevos, este era diferente. Tinha quatro folhas, por isso, não o viam como um trevo. Era uma aberração que manchava a fama do jardim, conhecido por fazer brotar belos trevos.
Sem pensar sequer duas vezes, ao vê-lo, a menina colheu-o com todo o cuidado. Ao perceberem este gesto da menina, os outros trevos ficaram intrigados. Procuravam afincadamente perceber este comportamento quando, finalmente, um trevo mais esclarecido fez luz sobre o assunto: – “Felizmente arrancaram-no, vão destruí-lo, acabou-se a nossa vergonha!” Juízo sábio, que acalmou todos os outros.
Mas, estava errado! Redondamente errado! A menina escolheu-o para o transplantar no seu jardim. Plantou-o no pedaço de jardim mais soalheiro.
Todos os dias a menina cuidava do trevo. Dispensava-lhe mimos, contava-lhe histórias, algumas felizes, de encantar, outras menos felizes, com menos encanto, mas igualmente necessárias ao seu desenvolvimento. Rapidamente tornou-se viçoso e brilhante, apresentava um verde que nenhum trevo ousara exibir. Erguia-se, agora, para o sol como nunca o fizera antes e era feliz, um trevo de quatro folhas, trevo da sorte, que tem a sorte de ser feliz.
Quando perguntaram à menina o que e que este trevo tinha de especial para ela, que, na verdade, não o tratava como um trevo, mas como um amigo, a menina respondeu que, de facto, o trevo era seu amigo, o seu melhor amigo, aliás, e que o que o tornava especial era o facto de ter quatro folhas, afinal, a caraterística que o tornava diferente de todos os outros e pela qual, anteriormente, ele havia sido abandonado.